sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Avaliação de empresas em mercados emergentes


 Avaliação de Empresas


               A avaliação de empresas é uma ferramenta de gestão que orienta os gestores, investidores, proprietários e investigadores de finanças de empresas para o incremento do valor dos acionistas através da conjugação das forças da procura e da oferta. A avaliação de empresa pode ser feita com a finalidade de aprontar a aquisição ou venda de uma participação ou da totalidade do capital social da empresa e pode incidir sobre uma ou mais unidades de negócios com as mesmas finalidades ou com vista a uma cisão.

             Assim, o valor de uma empresa é o resultado do equilíbrio entre o que os compradores estiverem dispostos a pagar pela aquisição e o que os vendedores aceitarem como preço de venda perante as alternativas que têm. A procura e a implementação de fatores geradores de valor para as empresas, devem ser feitas a partir de uma integração de conceitos da economia industrial, da estratégia empresarial, das finanças empresariais, da psicologia das organizações, entre outros. A fonte de criação de valor da empresa não é a sua condição financeira, mas sim a sua vantagem competitiva que se traduz pelo trinómio tecnologia; mercado; produto. No entanto, a capacidade de elaborar estratégias que aperfeiçoem os fatores de criação de valor, diante dos diversos cenários que o mercado propõe em função do contexto macroeconómico, constitui a base de uma gestão responsável.

            A criação de valor é influenciada por muitos fatores, nomeadamente:

·       A qualidade da gestão.

·       Estratégias.

·       Eficiência na implementação das estratégias.

·       Recursos humanos qualificados.

·       Fatores ligados aos meios envolventes internos e externos.

      Dado o interesse na criação de valor e da sua determinação em contexto empresarial, a avaliação de empresas é um tema particularmente pertinente na conjuntura atual em Angola, com a criação e desenvolvimento do mercado de capitais e consequente necessidade de determinação do valor das empresas para sua eventual colocação no mercado.
 
 
Avaliação de empresas é um processo estruturado que envolve e analisa fatores internos e externos da empresa com o objetivo de proporcionar resultados que levam a determinar o valor justo de mercado que reflita as potencialidades futuras da empresa.
      É um processo de extrema importância que ocorre em vários momentos e com utilidade distintas tais como:
·       Instrumento de planeamento financeiro
·       Avaliação da capacidade dos gestores de criar riqueza para os acionistas
·       Fusão e aquisição de empresas
·       Criar sinergias, condições para uma economia de escala salutar.
·        Garantir condições competitivas e expandir a participação de mercado das empresas investidoras, etc.
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Perceção do valor

      Em finanças empresariais, assume-se explicitamente que os gestores têm por função criar valor para os acionistas. Assim, a avaliação de empresas, a avaliação das estratégias empresariais e a avaliação do desempenho dos gestores na criação de valor para os acionistas, constituem o cerne das atenções das administrações das empresas.
      Valor é aquilo que uma coisa vale. Esta teoria leva-nos, a saber, como se pode exprimir o valor.
      O justo valor é a quantia pela qual um bem ou serviço pode ser trocado, entre um comprador avisado e interessado e um vendedor nas mesmas condições num convênio ao seu alcance.
      “A noção de valor emergiu, historicamente, das teorias económicas. Em economia, um produto é considerado um bem porque possui valor. Este pode ser definido pela quantidade de trabalho incorporado ou pela utilidade e satisfação proporcionada a quem dele usufrui.” (Rodrigues,  2010 pp 14).
      A gestão empresarial como ciência, segundo Rodrigues  (2010), apresenta várias noções de valor, dentre as quais destaca:
1.     Valor comercial» Aproxima-se do valor da utilidade; é o que os clientes estão dispostos a pagar.
2.     Valor acrescentado» É o valor criado pela produção da organização, é calculado pela diferença entre os proveitos e os consumos intermédios.
3.     Valor contabilístico» concebe e transmite a razão decerto bem figurar no balanço ou na demonstração de resultados de uma organização.
4.     Valor bolsista» Depende do valor contabilísticos e das noções de estratégia.

 Óticas da avaliação

A ideia base que está na origem das diferentes métricas de criação de riqueza por uma organização na òtica financeira está contida na afirmação de que uma empresa gera valor, desde que a rendibilidade do capital investido seja ao custo das diferentes fontes de financiamento utilizadas. (Brealey 2006).
 
Para Brealey (2006 ) o valor de uma organização não está ligado a decisão quanto à estrutura de Capital adotadas, mas com a rendibilidade esperada dos seus ativos. Os futuros fluxos de tesouraria disponíveis, gerados pela empresa, é que irão determinar o seu valor e não a simples escolha de uma proporção estática entre capital próprio e capital alheio.
Neves, (2000) aborda a questão do valor contabilístico afirmando que o valor contabilístico tem uma relação fraca com o valor da empresa, pois a maioria dos autores não reconhece como medida do valor da empresa a soma algébrica dos elementos patrimoniais que constam nas demonstrações financeiras.
A avaliação de empresas pode ser feita por várias formas, porém, depende em grande medida dos objetivos de avaliação.
Segundo Neves,(2002). Uma das tipologias possíveis para classificar os métodos de avaliação é a seguinte:
·       Avaliação Patrimonial (Asset based approach); adotam-se de forma subjetiva os ativos e passivos da organização contendo os não contabilizados (off-balance sheet), utilizando para o efeito um determinado discernimento de valorimetria para cada um deles.
 
·       Avaliações comparativas com o mercado (market approach) tomam-se empresas concorrentes que estejam cotadas no mercado ou que tenham sido adquiridas, usando assim os seus preços de transação como base comparativa com a empresa que se está a avaliar.
 
·       Avaliação pelo rendimento atualizado; esta prática de avaliação pondera que o valor da organização é função dos rendimentos futuros que a mesma oferece aos seus possuidores.
Partindo do princípio de que o rendimento esperado dos detentores assenta nos dividendos e nas mais- valias consolidadas pelo potencial crescimento, Modigliani e Miller (1961) consideravam as seguintes probabilidades de rendimento:
 
·       Dividendo (the stream of dividend approach) calcula-se o valor pela atualização dos dividendos futuros. (relevante para participações minoritárias).
 
·       Oportunidades de crescimento futuro (the current earnigs plus future investment oppotunities); o valor atual das ocasiões de crescimento está estritamente ligado a rendibilidade atual da empresa e as oportunidades de investimento no futuro.
 
·       Lucros (the stream of earnings approach) calculam-se pela atualização dos resultados regularizado, é uma avaliação que se realiza pela aplicação de um múltiplo aos resultados normalizados. (é mais usado no nível das PME).
 
·       Lucros Supranormais; estima-se o valor criado tendo em conta o capital investido, tendo em conta os objetivos da criação da empresa bem como o rendimento exigido pelos investidores.
 
·       Fluxos de Caixa (Discounted cash flow approach); estimam-se os fluxos de caixa previsionais atualizados ao custo do capital.
 
·       Avaliação pelas teorias das opções reais (real option approach) é uma técnica principiante em termos de desenvolvimento, parte do princípio do reconhecimento da possível existência de opções associadas à gestão dos ativos, o resultado da empresa tende a ser superior ao apurado pelos métodos anteriores.
 
·       Avaliação regulamentar; visa à execução das obrigações legais e é feita dentro dos parâmetros deliberados na legislação.
 
            Pérez e Fama 2003( citado por Rodrigues 2010) advertem para o facto de que, nenhum destes modelos deve ser considerado perfeito, sendo que, uns são mais vigorosos que outros mais nunca perfeitos.
            Diante da inculca apresentada, os modelos que passo a descrever, são os que no meio de tantos, foram tidos como fundamentais para o fim que se pretende alcançar com esta dissertação.

Avaliação na ótica dos dividendos

            Segundo Neves,  (2002) O valor atual de uma ação de um pequeno acionista que detenha ação num período de 1 ano, pode ser estimado com base nos dividendos do próximo ano (D1) e no preço esperado de cotação das ações para o próximo ano (P1), atualizado a taxa de oportunidade do custo de capital (Ke)
            O investidor pode desfrutar de rendimentos como fruto da aplicação financeira em ações de uma determinada organização quer por via dos dividendos assim como da venda futura da ação.
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 
 

Críticas ao modelo de avaliação baseado no desconto de dividendos

             Prende-se com o cálculo de uma taxa de crescimento dos dividendos ao longo do tempo que seja correta. Se bem que, o método da avaliação de uma ação através dos dividendos seja interessante, na prática tem sido alvo de algumas críticas.
 
            Uma primeira crítica aborda o facto de que é irreal pensar-se que qualquer empresa consegue estabelecer uma política de dividendos para toda a sua vida já que se encontra condicionada pelos resultados que conseguirá gerar no futuro.
 
            Segunda crítica evoca que, esta metodologia de avaliação apresenta o facto de que o valor obtido para a empresa é muito sensível á taxa de crescimento dos dividendos estimados. Logo, pequenos desvios no valor de g provocam variações significativas no valor final da organização.
 
            Outra questão não menos importante é a que se refere à distribuição de ganhos de capital vs. Ganho de dividendos. Por ser, geralmente uma mais baixa em relação à outra, os acionistas, Segundo Neves, (2002). Preferem ser remunerados através de ganho de capital em vez de ganho de dividendos. Em suma, se a empresa optar por não distribuir dividendos, esta metodologia de avaliação deixa de fazer sentido.

Avaliação na ótica de lucros supranormais

            As organizações geram rendas supranormais num segmento de mercado imperfeito. Porém, num cenário de concorrência perfeita, as organizações acusam de forma cíclica a baixa de proveitos e elimina as rendas supranormais e consequentemente baixas a possibilidade dos gestores e empresas de exercer uma atratividade maior sobre si, em relação às empresas dos outros negócios. (Rodrigues  2010).
 
            Segundo Neves 2002, a capacidade de gerar lucros, na espectativa económica tradicional, constitui o garante da estabilidade organizacional. A margem do valor patrimonial se encontra o valor relacionado aos ativos intangíveis que proporcionam um confortado aumento da capacidade de rendimento das organizações, tais como:
 
·       Marcas
·       Localização dos estabelecimentos
·       Fidelidade dos clientes
            Estes e mais outros ativos intangíveis são designados por goodwill. “No método da compra, reconhece-se a existência de goodwill (ou traspasse) contabilizável nos ativos da empresa adquirente no momento da aquisição de uma empresa-alvo sempre que o preço de aquisição da empresa-alvo for superior ao justo valor do seu capital próprio."(Neves, 2002 pp 6).
 
Ótica da entidade
Fonte: Neves 2002
            Nesta òtica consideram-se os capitais totais investidos, que corresponde o somatório dos capitais próprios e alheios, sem ponderar a fonte de financiamento, o rendimento disponível para remunerar os capitais investidos será o resultado operacional líquido de impostos (ROLI).
 
Ótica dos Capitais próprios
           
Fonte: Neves 2002
            O rendimento a considerar é o resultado líquido, porque o capital investido é o dos acionistas e a taxa de atualização que se deve usar é o custo do capital próprio.
 
            O Economic Value Added (EVA) mede a diferença entre a rendibilidade obtida pelo capital que se investiu na empresa e o custo total deste capital. Não é mais senão, o lucro operacional deduzido de impostos, menos o custo do capital.
 
            Segundo Damodaram (1997), o EVA é denominado também por lucro supra normal da qual, é descrito da seguinte forma:
 
                        EVAn = EBITn× (1 - T) -Ko ×C I n
Onde:
 
EVAn              Valor económico acrescentado no período n;
EBITn             Resultado Antes de Encargos Financeiros e Impostos no período n;
T                     Taxa de impostos sobre lucros;
Ko Custo Médio Ponderado do Capital da empresa;
 C I n               Capital Investido em n;
           
            O EVA, é uma teoria que mede o lucro excedentário de uma empresa, depois de se ter em conta a remuneração exigida pelos acionistas e pelos credores. A par desta teoria, segundo Damodaram (1997) encontramos o Market value Added (MVA) que por sua vez, mede o valor que a empresa criou no passado, e que pensa que vai criar no futuro. Não é mais que a soma dos EVAs gerados ao longo dos anos, atualizados para o momento zero.
 

Críticas aos modelos baseados nos resultados supranormais

            Os modelos baseados nos resultados supranormais englobam o custo de oportunidade sobre os investimentos em ativo fixo e em necessidade em fundos de maneio indispensáveis para a produção desses resultados.
 
            A grande questão que se levanta em torno desta teoria é o facto de, depender de forma efetiva de critérios contabilísticos. Em consequência disto, a empresa de consultoria Stern Stewart & Co, responsável pela criação do Economic Value Added descreveu cerca de 200 regras de ajustamentos contabilísticos que devem ser implementados. (Rodrigues, 2010).
 
            Young (1999; citado por Neves, 2002) contesta os ajustamentos apresentados por S. Stewar & Co, afirmando que as retificações em termos de balanço e Demonstrações de resultados não afetam o cálculo do EVA, pelo que se tornam irrelevantes.
 
            Hoje, os analistas, segundo Damodaram (1997) consideram efetivamente na avaliação de empresas métodos que favorecem o desembolso necessário para os investimentos em ativo fixo e em necessidades de fundo de maneio de forma direta. Por esta razão, os métodos baseados nos fluxos de caixa atualizados, lideram a lista das preferências dos analistas.

Avaliação na ótica dos fluxos de caixa

            Nos dias de hoje, em conformidade com a teoria financeira moderna, não se baseia o valor da empresa em princípios estáticos históricos, porque uma empresa vale pela expectativa que tem de gerar fluxos de caixa no futuro, atualizado ao custo de capital ajustado ao risco desses fluxos. (Neves, 2002).
            Para Brealey e Myers (2006), O Valor atual líquido (VAL), é dentre outros, o melhor método de avaliação de empresas.
            O VAL é o valor atual dos fluxos de caixa futuros cujo investimento inicial é o fluxo de caixa do ano zero.
 
            Segundo Damodaram (1997), existem várias limitações que podem complicar a ideologia segundo a qual, as empresas geram fluxo de caixas inerentemente positivos para sempre. Esta metodologia, não se adapta de forma eficiente, à avaliação de empresas que numa perspetiva futura apresentem fluxo de caixa negativo.
            Para avaliar uma empresa com resultados cíclicos, usando o método do fluxo de caixa livre descontados, precisa-se ter em conta as estimações da evolução da economia, porque as empresas com resultados cíclicos crescem quando a economia cresce e decrescem quando ocorre o inverso, chegando a dar sinais evidentes de falência em momentos de recessão.(Neves 2002).
            Como a metodologia do desconto do fluxo de caixa livre acusa todos os ativos da empresa que geram fluxo de caixa livre, existe a dificuldade em avaliar empresas que possuem um grande número de ativos não utilizados. Para contornarmos esta situação problemática, dever-se-á, adicionar aos free cash flow descontados o valor de mercado desses ativos, senão, a estimação estará incorreta.
            Em detrimento do exposto nas alíneas anteriores, segundo Bruner (1998; citado por Rodrigues 2010), 90% dos analistas financeiros utilizam como 1ª ferramenta de avaliação o modelo do fluxo de caixa livre descontados.
 

Conclusão

            O processo de avaliação é um meio de consecução de informação sobre a empresa e as técnicas de avaliação contribuem com informação suplementar para a definição da estratégia de negociação.
 
            O valor de uma determinada empresa está continuamente em mudança, à medida que, os benefícios futuros aumentam ou diminuem com o decorrer do tempo, por isso, as organizações adotam estratégias protegidas, porque acreditam que essas estratégias as ajudam a concretizar objetivos específicos em meios envolventes também específicos.


 

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